Oitavo Andar
"Quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar. Onde a dona Maria mora, porque ela me adora e eu sempre posso entrar. Era bem o tempo de você chegar no T, olhar no espelho o seu cabelo, falar com o seu Zé, e me ver caindo em cima de você como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer.
E aí, só nós dois no chão frio, de conchinhas bem no meio fio. No asfalto riscados de giz, imagina que cena feliz! Quando os paramédicos chegassem, e os bombeiros retirassem nossos corpos do Leblon, a gente ia para o necrotério, ficar brincando de sério, deitadinhos no bem-bom. Cada um feito um picolé, com a mesma etiqueta no pé. Na autópsia daria para ver como eu só morri por você.
Quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar. Invés disso eu dei meia volta e comi uma torta inteira de amora no jantar."
Capitão Gancho
"Se não fossem as minhas malas cheias de memórias, ou aquela história que faz mais de um ano, não fossem os danos não seria eu. Se não fossem as minhas tias com todos os mimos, ou se eu menino fosse mais amado, se não desse errado não seria eu.
Se o fato é que eu sou muito do seu desagrado não quero ser chato, mas vou ser honesto: eu não sei o que você tem contra mim. Você pode tentar por horas me deixar culpado, mas vai dar errado já que foi o resto da vida inteira que me fez assim.
Se não fossem os ais, e não fosse a dor, e essa mania de lembrar de tudo feito um gravador. Se não fosse Deus bancando o escritor. Se não fosse o Mickey, e as terças-feiras, e os ursos pandas, e o andar de cima da primeira casa em que eu morei e dava para chegar no morro só pela varanda. Se não fosse a fome, e essas crianças, e esse cachorro, e o Sancho Pança. Se não fosse o Koni e o Capitão Gancho, não seria eu."
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