"Em terceiro lugar, a primeira leitura de uma obra literária para os
literatos é, com frequência, uma experiência tão importante e significativa que
apenas experiências como o amor, a religião ou o luto podem servir como
parâmetro de comparação. Toda a sua consciência é alterada. Eles se transformam
no que não eram antes. Mas não há nem indício de algo assim entre os outros
tipos de leitores, que quando terminam um conto ou um romance, nada de muito
especial ou nada – simplesmente – parece ter acontecido a eles.
(…) Os primeiros
repetem, na solidão, seus versos e estrofes favoritos. Cenas e personagens dos
livros lhes fornecem uma espécie de iconografia com a qual interpretam ou
sintetizam sua própria experiência. Eles falam uns com os outros sobre livros
com frequência e profundidade. Os últimos quase nunca pensam ou falam sobre
suas leituras.
(…) Nós tratamos como
ingrediente essencial para nosso bem-estar algo que para elas é periférico." (Os Poucos e os Muitos)
"Eu estou pensando naqueles estudiosos desafortunados de universidades
estrangeiras que não podem “manter seu emprego” a menos que publiquem
repetidamente artigos que devem dizer, ou pareçam dizer, algo de novo sobre
algum texto literário; ou nos críticos sobrecarregados de trabalho, passando de
um romance para o próximo, tão rapidamente quanto possam, como um jovem se
preparando para o vestibular. Para pessoas assim, ler torna-se, com frequência,
mero trabalho. O texto diante delas não existe em seu pleno direito, mas
simplesmente como matéria-prima, barro com o qual completam os tijolos de sua
história. Consequentemente, em suas horas de lazer eles leem, se é que leem,
como muitos o fazem." (Caracterizações Falsas)
"Entretanto, enquanto
isso acontece, a única experiência literária real de uma família como essa pode
estar ocorrendo em um quartinho dos fundos onde um garotinho lê A ilha do
tesouro sob os cobertores, à luz de uma lanterna." (Caracterizações Falsas)
"Sentamo-nos em frente ao quadro no intuito de que ele nos faça algo, e
não para que façamos algo com ele. Entregar-se é a primeira demanda que
qualquer trabalho de arte nos faz. Olhar. Escutar. Receber. Tirarmos a nós
mesmo do caminho. (E não vale a pena perguntarmo-nos primeiro se a obra à nossa
frente merece tal entrega, porque enquanto não nos entregarmos, não será
possível saber isso.)" (Como os Poucos e os Muitos usam as Imagens e as Músicas)
"A distinção entre um e
outro caso dificilmente poderia ser mais bem traduzida do que dizendo que os
muitos usam a arte e os poucos a recebem. Os muitos se comportam
em relação a isso como um homem que fala quando deveria escutar, ou que dá
quando deveria receber." (Como os Poucos e os Muitos usam as Imagens e as Músicas)
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