sábado, 29 de agosto de 2015

Um Experimento na Crítica Literária (C.S.Lewis - 1961) #trechos

"Em terceiro lugar, a primeira leitura de uma obra literária para os literatos é, com frequência, uma experiência tão importante e significativa que apenas experiências como o amor, a religião ou o luto podem servir como parâmetro de comparação. Toda a sua consciência é alterada. Eles se transformam no que não eram antes. Mas não há nem indício de algo assim entre os outros tipos de leitores, que quando terminam um conto ou um romance, nada de muito especial ou nada – simplesmente – parece ter acontecido a eles.
(…) Os primeiros repetem, na solidão, seus versos e estrofes favoritos. Cenas e personagens dos livros lhes fornecem uma espécie de iconografia com a qual interpretam ou sintetizam sua própria experiência. Eles falam uns com os outros sobre livros com frequência e profundidade. Os últimos quase nunca pensam ou falam sobre suas leituras.
(…) Nós tratamos como ingrediente essencial para nosso bem-estar algo que para elas é periférico." (Os Poucos e os Muitos)

"Eu estou pensando naqueles estudiosos desafortunados de universidades estrangeiras que não podem “manter seu emprego” a menos que publiquem repetidamente artigos que devem dizer, ou pareçam dizer, algo de novo sobre algum texto literário; ou nos críticos sobrecarregados de trabalho, passando de um romance para o próximo, tão rapidamente quanto possam, como um jovem se preparando para o vestibular. Para pessoas assim, ler torna-se, com frequência, mero trabalho. O texto diante delas não existe em seu pleno direito, mas simplesmente como matéria-prima, barro com o qual completam os tijolos de sua história. Consequentemente, em suas horas de lazer eles leem, se é que leem, como muitos o fazem." (Caracterizações Falsas)
           
"Entretanto, enquanto isso acontece, a única experiência literária real de uma família como essa pode estar ocorrendo em um quartinho dos fundos onde um garotinho lê A ilha do tesouro sob os cobertores, à luz de uma lanterna." (Caracterizações Falsas)

"Sentamo-nos em frente ao quadro no intuito de que ele nos faça algo, e não para que façamos algo com ele. Entregar-se é a primeira demanda que qualquer trabalho de arte nos faz. Olhar. Escutar. Receber. Tirarmos a nós mesmo do caminho. (E não vale a pena perguntarmo-nos primeiro se a obra à nossa frente merece tal entrega, porque enquanto não nos entregarmos, não será possível saber isso.)" (Como os Poucos e os Muitos usam as Imagens e as Músicas)

"A distinção entre um e outro caso dificilmente poderia ser mais bem traduzida do que dizendo que os muitos usam a arte e os poucos a recebem. Os muitos se comportam em relação a isso como um homem que fala quando deveria escutar, ou que dá quando deveria receber." (Como os Poucos e os Muitos usam as Imagens e as Músicas)

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