Marx confiava apenas e tão somente no desenvolvimento intelectual da classe trabalhadora, o qual haveria necessariamente de brotar da ação e da discussão conjunta de todos os seus membros.
(Prefácio à quarta edição alemã de 1890, F. Engels)
Cada um desses estágios do desenvolvimento da burguesia se fez acompanhar do correspondente progresso político. Estamento oprimido sob a dominação dos senhores feudais, associação armada e autogovernante, na comuna, ora república municipal independente, ora terceiro estamento tributável da monarquia, depois, à época da manufatura, contrapeso para a nobreza da monarquia estamental ou na absoluta, fundamento central de todas as grandes monarquias - a burguesia por fim conquistou para si, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, a exclusiva dominação política no moderno Estado representativo. O moderno poder estatal é apenas uma comissão que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produção - ou seja, as relações de produção -, isto é, o conjunto das relações sociais. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
A transformação contínua da produção, o abalo ininterrupto de todas as condições sociais, incerteza e movimento eternos, eis aí as características que distinguem a época burguesa de todas as demais. Todas as relações sólidas e enferrujadas, com seu séquito de venerandas e antigas concepções e visões se dissolvem; todas as novas envelhecem antes mesmo que possam se solidificar. Evapora-se toda estratificação, todo o estabelecido; profana-se tudo que é sagrado, e as pessoas se veem enfim obrigadas a enxergar com olhos sóbrios seu posicionamento na vida, suas relações umas com as outras. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
No lugar das antigas necessidades, antes atendidas por produtos nacionais, surgem outras, cuja satisfação demanda produtos de países e climas longínquos. Em lugar da velha autossatisfação e do velho isolamento local e nacional, surgem relações abrangentes, uma abrangente interdependência entre as nações. E isso tanto no que se refere à produção material quanto à intelectual. Os produtos intelectuais de cada nação tornam-se bens comuns. Cada vez mais impossível se faz a unilateralidade, a estreiteza nacional, e a partir das muitas literaturas locais, nacionais, forma-se uma literatura universal. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
Vimos, portanto, que a sociedade feudal gerou os meios de produção e circulação que constituíram a base para a formação da burguesia. Uma vez atingido certo patamar de desenvolvimento desses meios de produção e circulação, as condições em que a sociedade feudal da agricultura e da manufatura - em suma, as relações feudais de propriedade -, deixaram de ser compatíveis com as forças de produção desenvolvidas. Elas inibiam a produção, em vez de estimulá-la. Transformaram-se em grilhões. Era necessário explodi-los, e assim foi feito. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
As armas de que a burguesia se valeu para derrotar o feudalismo voltam-se agora contra a própria burguesia. Ela, porém, não apenas forjou as armas que vão matá-la, mas gerou também os homens que vão empunhar essas armas: os trabalhadores modernos, os proletários.
Na mesma medida em que se desenvolve a burguesia - isto é, o capital - desenvolve-se também o proletariado, a classe dos trabalhadores modernos, que só sobrevivem à medida que encontram trabalho, e só encontram trabalho à medida que seu próprio trabalho multiplica o capital. Esses trabalhadores, que precisam se vender a varejo, são uma mercadoria como qualquer outro artigo vendido no comércio, sujeita, portanto, a todas as vicissitudes da concorrência e a todas as oscilações do mercado. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
O trabalhador torna-se mero acessório da máquina, do qual se exige apenas o mais simples e monótono movimento da mão, de aprendizado facílimo. Os custos que o trabalhador acarreta restringem-se, assim, quase que tão somente ao dos víveres de que ele necessita para seu sustento e para a propagação de sua espécie. O preço de uma mercadoria, porém, e portanto do trabalho, é igual ao de seus custos de produção. À medida que cresce a repugnância pelo trabalho, diminui, pois, o salário. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
Mas toda luta de classes é uma luta política. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
Os estratos médios - o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artesão, o camponês - combatem a burguesia para evitar sua extinção como estratos médios. Não são, portanto, revolucionários, e sim conservadores. Mais do que isso, são reacionários, buscam girar para trás a roda da história. Quando são revolucionários, eles o são em vista da iminente transição para o proletariado; não defendem, pois, seus interesses presentes, e sim os futuros; abandonam seu ponto de vista para assumir o do proletariado. (Cap. I - Burgueses e Proletários)
Nesse sentido, o comunismo pode resumir sua teoria numa única expressão: a abolição da propriedade privada. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
Ser capitalista significa assumir uma posição não apenas puramente pessoal, mas também uma posição social na produção. O capital é um produto coletivo, algo que só pode ser posto em movimento pela atividade conjunta de muitos membros da sociedade, ou, em última instância, pela atividade conjunta da totalidade de seus membros. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
O preço médio do trabalho assalariado é a remuneração mínima, ou seja, a soma dos gêneros alimentícios necessários para manter vivo, e trabalhando, o trabalhador. Assim, aquilo de que o trabalhador assalariado se apropria mediante sua atividade basta apenas para reproduzir sua vida nua e crua. Não queremos de modo algum suprimir esse apropriar-se dos produtos do trabalho com vistas à reprodução da vida pura e simples - um apropriar-se que não enseja ganho líquido resultante em poder sobre o trabalho dos outros. O que queremos suprimir é apenas o caráter miserável dessa apropriação, que só permite que o trabalhador viva para multiplicar o capital, e apenas na medida em que essa vida seja do interesse da classe dominante. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
Assim, na sociedade burguesa, o passado domina o presente; na comunista, é o presente que domina o passado. Na sociedade burguesa o capital é autônomo e pessoal, ao passo que o indivíduo atuante é impessoal e destituído de autonomia.
E a abolição dessa situação é o que a burguesia chama de abolição da personalidade e da liberdade! Tem razão. Trata-se, todavia, da abolição da personalidade, autonomia e liberdade dos burgueses.
Dentro das atuais relações de produção burguesas, entende-se por liberdade o livre-comércio, a liberdade de comprar e vender. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
Horroriza os senhores o fato de querermos abolir a propriedade privada. A verdade, porém, é que ela já foi abolida para nove décimos da sociedade dos senhores; e é ao fato de não existir para nove décimos dessa sociedade que ela deve sua existência. Os senhores nos acusam, pois, de querer abolir uma propriedade que tem por pressuposto necessário a imensa maioria da sociedade não dispor de propriedade nenhuma.
Os senhores nos acusam, em resumo, de querer abolir a sua propriedade. E é isso mesmo que queremos. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
O comunismo não tira de ninguém o poder de se apropriar de produtos sociais; tira, sim, apenas o poder de, mediante essa apropriação, subjugar o trabalho dos outros. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
Acusam, ademais, os comunistas de querer suprimir a pátria, as nacionalidades.
Os trabalhadores não têm pátria. Não se pode tirar deles o que não têm. Sendo imperativo que o proletariado, antes de mais nada, conquiste o domínio político, se erga em uma classe nacional e se constitua em uma nação, ele próprio será nacional, ainda que não no sentido burguês do termo. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
À medida que se abolir a exploração de um indivíduo pelo outro, abolir-se-á também a exploração de uma nação pela outra.(Cap. II - Proletários e Comunistas)
O proletariado usará sua dominação política para, pouco a pouco, arrancar da burguesia todo o capital, centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado - isto é, do proletariado organizado como classe dominante - e multiplicar o mais rapidamente possível a massa das forças de produção.
De início, é claro que isso só pode acontecer por intermédio de intervenções despóticas no direito de propriedade e nas relações de produção burguesas, ou seja, por intermédio de medidas que parecem economicamente insuficientes e insustentáveis, mas que, no curso do movimento, transcenderão a si mesmas e são inevitáveis como meio de transformação da totalidade do modo de produção. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
Naturalmente, essas medidas serão diferentes nos diferentes países.
Para os países mais desenvolvidos, no entanto, aplicar-se-ão de forma geral as que seguem:
1. Expropriação da propriedade fundiária e utilização das rendas da terra nas despesas do Estado.
2. Forte imposto progressivo.
3. Supressão do direito de herança.
4. Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes.
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado mediante um banco nacional com capital estatal e monopólio exclusivo.
6. Centralização dos transportes nas mãos do Estado.
7. Multiplicação das fábricas nacionais, dos instrumentos de produção; expansão e melhoria das terras para o cultivo segundo um plano comunitário.
8. Obrigatoriedade do trabalho para todos, criação de exércitos industriais, sobretudo para a agricultura.
9. União das atividades agrícolas e industriais, empenho na eliminação gradativa da diferença entre cidade e campo.
10. Educação pública e gratuita para todas as crianças. Eliminação do trabalho infantil nas fábricas em sua forma atual. Associação da educação com a produção material etc. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
No lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classes, surge uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos. (Cap. II - Proletários e Comunistas)
Os comunistas repudiam todo e qualquer ocultamento de suas posições e intenções. Eles declaram abertamente que seus propósitos só podem ser alcançados mediante a derrubada pela força de toda ordem social até hoje reinante. Que as classes dominantes tremam ante a revolução comunista. Os proletários nada mais têm a perder com ela do que seus grilhões. Têm, sim, um mundo a ganhar.
PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNAM-SE! (Cap. IV - O posicionamento dos comunistas em relação aos diversos partidos oposicionistas)
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