"Eis o homem! Põe a culpa no sapato, quando o culpado é o pé."
"Ele parou de chorar. Você tomou o lugar dele. As lágrimas do mundo existem em quantidades constantes. Para cada homem que começa a chorar, alguém para em algum lugar. O mesmo é com a risada."
"A noite não descerá nunca?"
"O tempo parou."
"Agora eu entendo! Você não é daqui. Não sabe o que nossos crepúsculos podem fazer."
"Estragon: Não sou feliz!
Vladimir: Desde quando?
Estragon: Eu não me lembro."
"Eu às vezes me pergunto se não teria sido melhor que a gente tivesse ficado sozinho, cada um por si. Não fomos feitos para a mesma estrada."
"Você e suas paisagens! Fale-me sobre os vermes!"
"Vladimir: A cada um sua pequena cruz. Até que morra. E seja esquecido.
Estragon: Enquanto isso, vamos tentar conversar com calma, já que a gente é incapaz de ficar em silêncio.
Vladimir: Tem razão, somos incansáveis.
Estragon: É para não pensarmos.
Vladimir: Temos essa desculpa.
Estragon: É para não ouvirmos.
Vladimir: Temos nossos motivos.
Estragon: Todas as vozes mortas.
Vladimir: Fazem um ruído de asas.
Estragon: De folhas.
Vladimir: De areia.
Estragon: De folhas.
Vladimir: Falam todas ao mesmo tempo.
Estragon: Cada uma para si.
Vladimir: Na verdade elas sussurram.
Estragon: Cochicham.
Vladimir: Murmuram.
Estragon: Chochicham.
Vladimir: O que é que dizem?
Estragon: Falam sobre suas vidas.
Vladimir: Terem vivido não foi o bastante.
Estragon: Têm que dizer sobre.
Vladimir: Terem morrido não foi o bastante.
Estragon: Não é suficiente."
"Isso está ficando realmente insignificante."
"A gente sempre inventa alguma coisa para ter a impressão de que a gente existe, hein, Didi?"
"Estou cansado de respirar."
"Não estamos mais sozinhos, à espera da noite, à espera de Godot, à espera da... Espera. Nós lutamos sozinhos durante toda a tarde. Agora está terminado. Já é amanhã."
"Não vamos perder tempo com discussões inúteis! Vamos fazer alguma coisa, enquanto temos a oportunidade! Não é todo dia que precisam de nós. Não que precisem realmente de nós. Outros poderiam tratar do assunto tão bem quanto a gente, talvez até melhor do que a gente. Esses gritos de socorro que ainda ressoam em nossos ouvidos foram dirigidos à humanidade inteira! Mas neste momento, neste lugar, a humanidade inteira se resume em nós, queiramos ou não. Vamos fazer o melhor que pudermos, antes que seja tarde demais! Vamos representar dignamente, ao menos uma vez, o terrível papel que um cruel destino nos reservou! Que é que você me diz? É evidente, também, que, se ficarmos de braços cruzados, pesando os prós e os contras, também faremos justiça à nossa espécie. O tigre se precipita em socorro de seus congêneres sem a menor reflexão. Ou foge a se esconder nos emaranhados da selva. Mas a questão não é essa. O que é que estamos fazendo aqui? Esta é a questão. E somos abençoados por conhecer a resposta. Sim, em meio a essa imensa confusão, uma só coisa está clara: estamos esperando Godot. (...) Ou que a noite caia. Nós não faltamos ao compromisso, quanto a isso não há dúvidas. Não somos santos, mas não faltamos ao compromisso. Quantas pessoas podem dizer o mesmo? (...) Tudo o que sei é que, sob estas condições, as horas são longas e nos compelem a nos distrairmos com práticas que – como devo dizer – que podem parecer razoáveis à primeira vista, até se tornarem um hábito. Você pode argumentar que isso impede que nossa razão sucumba. Sem dúvida. Mas não estará a razão vagando pela noite sem fim das profundezas abissais? É isso que eu às vezes me pergunto."
"Todos nascemos loucos. Alguns permanecem assim."
"Em breve tudo terá passado e estaremos sozinhos mais uma vez sozinhos, em pleno nada!"
"Um belo dia acordei cego como o Destino. Às vezes me pergunto se ainda estou dormindo."
"Você não cessa de me atormentar com suas malditas histórias sobre o tempo? É abominável! Quando! Quando! Um dia, será que não é o bastante para você? Um dia ele ficou mudo, um dia eu fiquei cego, um dia ficaremos surdos, um dia nascemos, um dia morremos, o mesmo dia, o mesmo segundo, não lhe basta? O nascimento ocorre com um pé sobre a cova, a luz brilha durante um breve instante, então é noite novamente."
"Eu estava dormindo enquanto os outros sofriam? Estarei dormindo agora? Amanhã, quando despertar, ou achar que despertei, o que direi do dia de hoje? Que junto a Estragon, meu amigo, neste lugar, até o cair da noite, esperei por Godot?"
"Que Pozzo passou com seu criado e falou conosco? É provável. Mas que verdade haverá em tudo isso? Ele não saberá nada. Me dirá sobre os golpes que recebeu e eu lhe darei uma cenoura. (Pausa.) Um pé sobre a cova e um nascimento difícil. Apático, ao fundo do buraco o coveiro aplica seu fórceps. Temos tempo para envelhecer. O ar está repleto dos nossos gritos. Mas o hábito é uma grande surdina. Também para mim alguém está olhando, também sobre mim alguém está dizendo: ele está dormindo, ele não sabe nada, deixe-o dormir. Não posso mais continuar assim! O que foi que eu disse?"
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