sexta-feira, 27 de março de 2015

1984 (George Orwell - 1949) #trechos

George Orwell
"Com exceção dos poucos centímetros que cada um possuía dentro do crânio, ninguém tinha nada de seu."

"A memória de sua mãe atormentava seu coração porque ela morrera amando-o, quando ele era jovem e egoísta demais para poder retribuir seu amor."


"E o aterrorizante não era o fato de poderem mata-lo por pensar de outra maneira, mas o fato de poderem ter razão."

"Pelo que se lembrava dela, não achava que tivesse sido uma mulher excepcional, muito menos inteligente; contudo possuía uma espécie de nobreza, uma espécie de pureza, pelo mero fato de seguir padrões muito particulares de comportamento. Seus sentimentos eram próprios dela e não podiam ser alterados por fatores externos. Jamais teria ocorrido a sua mãe que, por ser ineficaz, um ato pudesse perder o sentido. Quando você ama alguém, ama essa pessoa e mesmo não tendo mais nada a oferecer, continua oferecendo-lhe o seu amor."

"Não eram leais nem a um partido, nem a um país, nem a uma ideia: eram leais uns aos outros. Pela primeira vez na vida não desprezou os proletas nem pensou neles apenas como uma força inerte que um dia despertaria para a vida para reformar o mundo. Os proletas haviam permanecido humanos."
"Em nossa sociedade, aqueles que estão mais informados sobre o que ocorre são também os que estão mais longe de ver o mundo como ele é. Em geral, quanto maior a compreensão, maior o engodo; quanto maior a inteligência, menor a saúde mental."


"Havia verdade e havia inverdade, e se você se agarrasse à verdade, mesmo que o mundo inteiro o contradissesse, não estaria louco."

"Ele já sabia o que O’Brien ia dizer. Que o Partido não desejava o poder em benefício próprio, mas para o bem da maioria. Que precisava ter poder porque as massas eram compostas de pessoas frágeis e covardes que não aguentam a liberdade, não conseguem encarar a verdade e precisam ser governadas e iludidas sistematicamente por outras pessoas mais fortes do que elas. Que a humanidade deve optar entre liberdade e felicidade e que, para a esmagadora maioria da população, felicidade era o melhor. Que o partido era o eterno guardião dos fracos, com uma congregação dedicada que fazia o mal para que prevalecesse o bem, que sacrificava a própria felicidade em benefício da felicidade dos demais. O terrível, pensou Winston, o terrível era que quando O’Brien dizia aquelas coisas ele acreditava."

"O’Brien compreendera e sopesara tudo, e nada mais fazia diferença: tudo se justificava em função do propósito maior."

"Que se pode fazer, pensou Winston, contra um maluco que é mais inteligente que você e presta atenção nos seus argumentos, mas que no fim não faz mais que persistir em sua loucura?"

"Poder não é um meio, mas um fim. Não se estabelece uma ditadura para proteger uma revolução. Faz-se a revolução para instalar a ditadura. O objetivo da perseguição é a perseguição. O objetivo da tortura é a tortura. O objetivo do poder é o poder."

"Escravidão é liberdade. Sozinho – livre – o ser humano sempre será derrotado. Assim tem de ser, porque todo ser humano está condenado a morrer, o que é o maior de todos os fracassos. Mas se ele atingir a submissão total e completa, se conseguir abandonar sua própria identidade, se conseguir fundir-se com o Partido a ponto de ser o Partido, então será todo-poderoso e imortal. A segunda coisa que você deve entender é que poder é poder sobre os seres humanos. Sobre os corpos – mas, acima de tudo, sobre as mentes."

"Antes do homem não havia nada. Depois do homem, se sua extinção vier a ocorrer, não haverá nada. Fora do homem não há nada." "Mas todo o universo está fora de nós."

"Poder é infligir dor e humilhação. Poder é estraçalhar a mente humana e depois juntar outra vez os pedaços, dando-lhes a forma que você quiser. E então? Está começando a ver que tipo de mundo estamos criando? Exatamente o oposto das tolas utopias hedonistas imaginadas pelos velhos reformadores. Um mundo de medo e traição e tormento, um mundo em que um pisoteia o outro, um mundo que se torna mais e não menos cruel à medida que evolui. O progresso, no nosso mundo, será o progresso da dor. As velhas civilizações diziam basear-se no amor e na justiça. A nossa se baseia no ódio. No nosso mundo as únicas emoções serão o medo, a ira, o triunfo e a autocomiseração. Tudo o mais será destruído – tudo."

"A única lealdade será para com o Partido. O único amor será o amor ao Grande Irmão. O único riso será o do triunfo sobre o inimigo derrotado. Não haverá arte, nem literatura, nem ciência. Quando fomos onipotentes, já não precisaremos da ciência. Não haverá distinção entre beleza e feiura. Não haverá curiosidade, nem deleite com o processo da vida. Todos os prazeres serão eliminados."
"Nós controlamos a vida, Winston, em todos os níveis. Você está imaginando que existe uma coisa chamada natureza humana, e que essa coisa ficará ultrajada com o que estamos fazendo e se voltará contra nós. Mas nós é que criamos a natureza humana. Os homens são infinitamente maleáveis. Ou será que você voltou à sua velha ideia de que os proletários ou os escravos se levantarão e nos derrubarão? Tire isso da cabeça. Eles não têm saída. São como os animais. A humanidade é o Partido."


"Pela primeira vez, Winston se dava conta de que, para guardar um segredo, teria de guarda-lo também de si mesmo. Era preciso ficar o tempo todo consciente da presença do segredo, mas, enquanto  fosse possível, não podia permitir que ele assomasse à consciência sob nenhuma forma a que alguém pudesse dar nome. De agora em diante, não bastava pensar direito; tinha de sentir direito, sonhar direito. E tinha de manter o ódio permanentemente trancado dentro de si, como um nódulo que fosse parte dele mesmo e ao mesmo tempo não tivesse relação com o resto do seu ser, uma espécie de cisto."

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